14h13. Estou com medo do que vou escrever hoje. Será que
cairei no mesmo baixo-astral do texto “Reiniciar”? Não queria. Embora
ache as percepções daquele válidas, trago um tanto mais de esperança hoje que
ontem e, consequentemente, uma alma mais leve. A janela do meu quarto está
aberta a claridade da tarde invade o meu quarto, minhas janelas têm películas
que quando fechadas diminuem sensivelmente o brilho. O Hulk está mais verde do que
nunca. Botei as películas para o sol não queimar as pinturas dos meus bonecos.
Vou pegar um copo de Coca com muito gelo. Eu mereço me dar esse prazer depois
do desprazer que foi escrever o post anterior. E me sentir miserável como me
senti ontem. Não de pobreza material, mas de pobreza de espírito.
14h26. Já estou com a Coca aqui. A vontade de fumar um
cigarro me assola. Acho que não privarei esse desejo também.
14h34. Agora só fumarei cigarros à noite. Mais dois
precisamente. Senão me faltará para os demais dias. Vi uma pessoa mais jovem
que eu já com livro publicado e agora na Young & Rubicam de São Paulo. O
peso da minha mediocridade novamente dói nos meus ombros. Não queria que esse
fosse um post fosse tão carregado quanto o outro, mas vou aonde a escrita me
levar. Já tocou a discografia do Cocteau Twins inteira enquanto dormia e agora
passam as sugestões do Spotify. Não me desagradam. Eu que em teoria nasci com a
inteligência acima do normal, calhei de acreditar nisso e, quando pensei que
voaria longe, nem decolei. Ou antes ensaiei um voo que não durou muito. E agora
sou eu com as minhas palavras que não têm serventia alguma que não preencher o
meu tempo inútil com inutilidades. É a vida e segue porque não há morte à
vista. Sigo respirando e existindo meio que a esmo, sem destino ou projeto.
Aliás, aos meus dois sonhos ou projetos estou dando andamento. Só não
terminarão como espero. Ou talvez terminem, quem sabe? Acho altamente
improvável, mas se tem uma coisa na qual eu não sou bom é em profetizar. O
Profeta do título foi colocado numa fase maníaca e, como existe há tantos anos,
permanecerá. Mas minha vocação não é profetizar. Sou péssimo nisso. Queria ser
profeta de verdade, pois aí saberia da possibilidade ou impossibilidade dos
meus dois sonhos-projetos. Mas sigamos adiante. O que tenho a dizer? Detesto
quando as palavras se tornam arredias. Vaporfi.
14h55. Minha mãe disse para eu esquecer Raimundo Carrero,
mas não consigo esquecer dele, meu assunto com ele não está terminado até que
lhe mande o meu último e-mail. Mas tudo a seu tempo. Como odeio essa frase, eu
que estou acostumado com tudo a meu tempo, pois o que faço depende
exclusivamente de mim. Esperar pelo tempo dos outros me põe ansioso e cheio de
expectativas. A maioria negativa. Eu ando insatisfeito com a minha vida desde
ontem. Minha cabeça coça. Não sei se é estresse, mas estresse de quê? É certo
que tenho cismado bastante com as minhas questões e que não atravesso um
momento dos melhores na minha existência, não por fatores externos, mas por
fatores internos. O que separa a realização dos meus dois projetos da
não-realização deles? Não sei dizer. Ou sei, a vontade de terceiros, eis aí o
cerne da questão. Independe de mim. Não sei como agir com os outros de forma a
levar tais projetos à consecução. Ou melhor, sei o que posso fazer, mas não é
tempo ainda, quem determina esse tempo é a incrível revisora. Quando decidirmos
que o livro chegou à melhor forma que pode ser, é a hora de botar o projeto adiante.
Mandar para o meu tio, para o velho escritor e torcer pelo melhor. Trinta dias
desde que mandei para o escritor. A vontade de mandar um e-mail nesse dia tão
simbólico arde dentro de mim como uma azia da alma. Mas segurarei minha acidez
para o momento certo. A vontade que tenho é de apagar tudo o que escrevi até
aqui e começar de novo. Mas vejo isso como um retrato falado de mim no momento,
então deixo o que já foi, pois aquilo era eu também. Vou pegar Coca.
15h22. O meu tio está online no Facebook, mas não tenho cara
de comentar sobre o livro com ele. Ainda. Tudo a seu tempo. É o que mais tenho
e só sei preenchê-lo com palavras. Isso às vezes se afigura como uma perda
imensa de vida que poderia estar vivendo de outra forma, mas não vejo forma
mais interessante que essa. Ou mais fácil. Ou cômoda. Por mais que ultimamente
os textos tenham despertados sentimentos negativos em mim. Isso é porque eu
trago sentimentos ruins de desilusão do porvir. Viver uma desilusão por
antecipação é, no mínimo, uma postura idiota é como pensar no final do
relacionamento quando este ainda está na paquera. Não tem sentido. Então o
melhor a se fazer é deixar as coisas irem acontecendo e ir convivendo com as
expectativas.
15h33. Quase ia mandando um e-mail para Raimundo Carrero com
link para os posts de hoje. A ideia se apresentou bem sólida na minha cabeça,
tive que fazer esforço para reprimi-la. Hoje estou explorando o Spotify,
deixando que me sugira músicas. É interessante. A seleção é pertinente. Me
agrada.
16h02. Mamãe chegou e ela e meu padrasto trouxeram um lanche
do McDonald’s, que já está em clima de Copa e oferece sanduíches das seleções,
mamãe me trouxe o da Alemanha que é a seleção do dia de hoje. O Quarterão deixei
para depois, pois não tive fome suficiente para dois sanduíches, mais batata,
mais um milk-shake. Em que consistia o sanduíche da Alemanha? Dois hambúrgueres
com queijo, bacon, tomate e uma suave mostarda escura, num pão com um gergelim
diferente. Nossa, de barriga cheia não tenho disposição nem para escrever.
16h08. Mas vamos às palavras. Que palavras que essas não me
vêm? Hahaha. Estou numa leseira triste aqui. Escutando um tal Slowdive que tem
muito realmente de Cocteau Twins. Essa sensação de saciedade me desarma
completamente. Não gosto da sensação de saciedade ainda mais quando não estava
nem com fome. Mas não poderia deixar de comer, seria uma desfeita. E sanduíche
velho do McDonald’s não é a melhor coisa do mundo. Como há coisas medíocres no
mundo que conseguem holofotes para si. Por isso me questiono se meu livro não
teria as mesmas propriedades para isso. Acredito que tenha. Acredito no livro
hoje, como não acreditava no post anterior, graças ao Spotify. Que me mostra
músicas medíocres, mas que conseguiram ser gravadas e lançadas. Por que não
posso eu, tão medíocre quanto, ser publicado? Preciso de uma Coca para ajudar na
digestão. Estou empanzinado aqui.
16h23. Às vezes me dá vontade de gritar. Botar para fora,
mas me seguro. Dizem que isso pode ser libertador. Vejo todos passarem à minha
frente e eu empacado no meio do caminho. Apodrecendo. Eu não fui feito para o
mundo. Fruto malformado que apodrece no tronco. Toda possibilidade de ser nova
árvore que não possuo. Quem colherá? Quem se servirá do que ofereço de mim? O
que me passou pela cabeça é que, com a virtualização da música, o sonho de ser
e ter uma banda diminuiu significativamente. Posso estar enganado. Como disse,
sou um profeta de araque. A democratização da música tira um pouco do glamour
de ser estrela. É tanta gente que é difícil se destacar quando todo mundo pode
se publicar na internet. Sei lá, falo do que não entendo. Nada sei do mercado
musical. Isso é apenas uma impressão que me dá. Acho engraçado quem dá os
conselhos e não os segue. Eu mesmo faço isso em relação ao cigarro. É cômico,
com que autoridade posso falar de algo que não pratico?
16h43. O tédio veio se apossar de mim. Detesto essa parte. Nada
se perde na vida se extintos os momentos de tédio. Talvez falte ele como
contraponto para os momentos em que não se está entediado, mas estes têm brilho
próprio que não aumenta por ter como comparativo o tédio. O tédio é
desnecessário ou, antes, é um chamado para a mudança, para se fazer algo de
diferente, algo a mais. Mas não há nada mais que eu queira fazer, que
encruzilhada. O negócio é seguir para ver onde isso vai dar. Não acredito que o
dia já vai me deixar. Isso põe tudo mais tristonho ao meu redor e dentro. A não
ser que miraculosamente o meu amigo da piscina me chamasse para descer. Não
acho que isso ocorrerá. Nem sei se anseio mesmo por esse encontro. Nossa, a
viagem me assusta. Me põe temores grandes no peito. Uma ansiedade ruim, um não
quere ir muito forte. Me põe até a suar. Isso não é normal. Mas não posso me
anestesiar mais do que já me anestesio com medicamentos. Eu deixaria de ser eu,
o que nem é uma má ideia. Hahaha. Rio, mas o sentimento de impotência perante a
vida me consome. Vou ligar o ar, a ansiedade da viagem me pôs a suar. Pegar
café para ver se isso faz alguma diferença.
17h11. É uma droga não gostar de quem se é e mais ainda
fazer uma coisa que gosta mas detestar o resultado. Melhor do que fazer o que não
gosta e adorar o resultado, acho eu. Eu tenho desgostado muito de ser eu desde
ontem. Mais do que o normal, eu digo. Tudo me parece infantil. Até os encontros
com o meu amigo da piscina. Que maturidade é essa da qual me visto se não tenho
maturidade alguma? Isso é muito contraditório. Aposto que se meu amigo da
piscina me chamasse eu iria sem titubear. Vou tomar o resto do café. E acho que
vou fumar um indevido cigarro.
17h24. Não me movi da cadeira, dei uma olhada inútil na
internet, vendo coisas que não me interessavam. É o que mais faço na internet,
ver coisas que não me interessam. É raro ver algo que me desperte interesse. E
se, note bem que é um “e se”, os meus dois projetos-sonhos fossem publicados?
Como isso me afetaria? Eu não sei nem medir. Hoje eu sei menos das coisas que o
meu normal. Mas ambos trazem resultados imprevisíveis. Realmente não sei.
17h41. Existir pode ser uma experiência deveras enfadonha às
vezes, mais vezes do que gostaria que fosse. Tem gente que tem gente ao redor,
gente conhecida, gente querida. Para esses acho que é mais difícil se enfadar
da vida. Eu tenho minha mãe e meu padrasto e busco deixar um para o outro e
para suas séries, seus afazeres, seus celulares. Estou sem saco de estar aqui e
tampouco quero sair daqui. Se fosse, era para cama dormir. Mas não quero
dormir. Não quero escrever, mas quero menos dormir do que escrever. Estou de
saco cheio da vida como ela está se dando hoje. Eu não sei o que dizer, não
tenho muita vontade de dizer e só o faço por força do hábito. Eu precisava de
algo que me alterasse o humor. Para melhor, digo. Em não tendo...
18h04. Minha mãe me disse que o gás havia voltado – estão racionando
aqui no prédio por conta da greve dos caminhoneiros – e que se eu quisesse
tomar banho quente me apressasse. Eu quis. Foi razoável como tudo na minha vida
hoje. Isso pode ser a calmaria antes da tempestade. A tempestade seria o quê? A
consecução do meu projeto. Mas, sei lá, não tenho disposição nem de pensar
nisso. Vi uns anúncios dos novos games que vão ser lançados e não me deu a
menor vontade de jogar videogame. Estou virando um velho chato, ensimesmado,
recluso e sem palavras. Logo elas, que são as únicas com quem posso contar
nesses meus longos dias de solidão. Talvez eu precise dar um tempo na escrita,
sei lá. As músicas já se repetem na seleção do Spotify. Ou seja, passei muitas
horas ouvindo realmente. O que queria que se materializasse aqui? Um exemplar
da primeira de várias edições do meu livro. Hahaha. Hoje não é um dia para
pensar na morte, pois nesse marasmo ela me parece mais convidativa e
provocante. Tenho que viver pelo menos para ver onde essa história de livro vai
dar. Ou me levar. Não queria ter essa viagem no meio do ano. Só falta a revisão
ficar pronta quando eu estiver lá. Tanto faz, eu posso mandar para o meu tio
mesmo assim. Tomara que ele faça a parte dele. Eu sou uma figura insignificante
para ele, isso sim. Ele acha que me pedindo os trabalhos está me ajudando a me
sentir produtivo e útil. Doce ilusão. Amarga para mim. Acho que mais do que o
exemplar do meu livro eu queria que se materializasse a aprovação de Raimundo Carrero.
Não sei, fico entre essas duas. De amor nem vou falar. Desaprendi. Sei amar
ainda. Só que só sei amar impossível, não sei mais amar de verdade. Eu sou uma
negação como ser humano. Sou um ser humano negativo. Ou me sinto assim hoje e
desde ontem. Quantas e quantas pessoas não têm os seus sonhos destruídos? Eu
sou apenas mais um. E olhe que ainda há esperança. Nada está definido ainda.
Pelo contrário, a rodada vai começar depois do final da revisão e edição.
18h47. Sem... saco... para... existir... tédio imenso... Coca-Cola.
18h52. Minha mãe perguntou o que eu tenho? Respondi, nada. E
é precisamente o que eu tenho um excesso de nada. Esse post não vai ser
divulgado. Mas vai ser postado.
19h01. Vi duas pessoas que escrevem complicado e isso me
intimida, eu que escrevo simples e direto, sem cambalhotas ou piruetas para
dizer o que quero. Essa vontade de ser diferente eu não tenho. Não tenho
estilo. Se o tenho é direto e de pouquíssimos rodeios e rodopios. Mas parece
que falar difícil agrada os críticos literários. Só posso crer. Eu sou
realmente um nada na vida. E continuarei sendo um nada na vida, só não vou
escrever empolado porque não quero, não sei e não consigo.
19h05. Não lembro de Machado de Assis ter escrita inacessível.
Tinha uma forma de dizer belíssima, mas não era inacessível. Não que eu me lembre.
Li pouco de Machado de Assis. Mas acho que li o livro certo, Dom Casmurro, a
coisa mais bem escrita em que já pus os olhos. Quem me dera ter um milésimo de
seu brilhantismo. Mas é uma pena nasci sem ele, não me esmero na construção dos
meus textos, vou apenas transcrevendo o que me ocorre. Sou um escrivão da minha
mente. Nada mais que isso. Mas fico feliz que meus amigos de estilo mais
rebuscado se destaquem, devem ter seu mérito. Eu pelo visto nenhum mérito
tenho. Por mais que ache que a história que conte seja interessante, pode ser
que seja contada de forma medíocre. Eu sei lá. Primeiro verei o que a incrível
revisora diz. Mas acho que ela não será mensageira de boas notícias. Talvez por
isso o receio em me falar sobre o livro. Tenho que desopilar desse livro, mas
queria que saísse pelo menos no Jornal do Commercio caso fosse publicado.
Enviaria para todos os locais possíveis e imagináveis. Eu disse que iria parar
de falar sobre isso. Mas não consigo se minha existência orbita ao redor disso
com uma mariposa a uma lâmpada. Todo a significância da minha vida amparada em
algo que provavelmente nem vá se dar. Quase, quase fiz o movimento de repartir
com as minhas amigas o segredo do livro. Eu hoje estou querendo ligar o foda-se
mesmo. Calma, calma, só há necessidade de contar se for certa a publicação. Ou
seria mais decente fazê-lo independentemente disso? Acho desnecessário. Não
sei, estou me dúvida. Tudo a seu tempo. Vou usar essa frase a meu favor para
essa questão. Se estou usando contra a minha vontade nas demais, por que essa
não possa ser a exceção? Ser uma que eu realmente ache que deva dar um tempo? Eu
estou... eu nem sei definir. É um estado que não me agrada. Pode ser o início
de uma depressão. Espero que não. Deve ser outra coisa. Sei que amanhã vai ter
café a dar de rodo e dificilmente me sentirei assim. Não acredito que já estou
na quinta página. De que eu não sei. Escrever sobre nada é uma tarefa difícil,
não são muitos que conseguem. Ou fazer de tão pouco tanta coisa, tanto texto.
Realmente me impressiona essa capacidade. É um tremendo desperdício de tempo, de
palavras, de neurônios, é lixo. O que estou produzindo hoje é lixo, acho que
tudo o que produzo é.
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