Wednesday, May 30, 2018

LIXO




14h13. Estou com medo do que vou escrever hoje. Será que cairei no mesmo baixo-astral do texto “Reiniciar”? Não queria. Embora ache as percepções daquele válidas, trago um tanto mais de esperança hoje que ontem e, consequentemente, uma alma mais leve. A janela do meu quarto está aberta a claridade da tarde invade o meu quarto, minhas janelas têm películas que quando fechadas diminuem sensivelmente o brilho. O Hulk está mais verde do que nunca. Botei as películas para o sol não queimar as pinturas dos meus bonecos. Vou pegar um copo de Coca com muito gelo. Eu mereço me dar esse prazer depois do desprazer que foi escrever o post anterior. E me sentir miserável como me senti ontem. Não de pobreza material, mas de pobreza de espírito.

14h26. Já estou com a Coca aqui. A vontade de fumar um cigarro me assola. Acho que não privarei esse desejo também.

14h34. Agora só fumarei cigarros à noite. Mais dois precisamente. Senão me faltará para os demais dias. Vi uma pessoa mais jovem que eu já com livro publicado e agora na Young & Rubicam de São Paulo. O peso da minha mediocridade novamente dói nos meus ombros. Não queria que esse fosse um post fosse tão carregado quanto o outro, mas vou aonde a escrita me levar. Já tocou a discografia do Cocteau Twins inteira enquanto dormia e agora passam as sugestões do Spotify. Não me desagradam. Eu que em teoria nasci com a inteligência acima do normal, calhei de acreditar nisso e, quando pensei que voaria longe, nem decolei. Ou antes ensaiei um voo que não durou muito. E agora sou eu com as minhas palavras que não têm serventia alguma que não preencher o meu tempo inútil com inutilidades. É a vida e segue porque não há morte à vista. Sigo respirando e existindo meio que a esmo, sem destino ou projeto. Aliás, aos meus dois sonhos ou projetos estou dando andamento. Só não terminarão como espero. Ou talvez terminem, quem sabe? Acho altamente improvável, mas se tem uma coisa na qual eu não sou bom é em profetizar. O Profeta do título foi colocado numa fase maníaca e, como existe há tantos anos, permanecerá. Mas minha vocação não é profetizar. Sou péssimo nisso. Queria ser profeta de verdade, pois aí saberia da possibilidade ou impossibilidade dos meus dois sonhos-projetos. Mas sigamos adiante. O que tenho a dizer? Detesto quando as palavras se tornam arredias. Vaporfi.

14h55. Minha mãe disse para eu esquecer Raimundo Carrero, mas não consigo esquecer dele, meu assunto com ele não está terminado até que lhe mande o meu último e-mail. Mas tudo a seu tempo. Como odeio essa frase, eu que estou acostumado com tudo a meu tempo, pois o que faço depende exclusivamente de mim. Esperar pelo tempo dos outros me põe ansioso e cheio de expectativas. A maioria negativa. Eu ando insatisfeito com a minha vida desde ontem. Minha cabeça coça. Não sei se é estresse, mas estresse de quê? É certo que tenho cismado bastante com as minhas questões e que não atravesso um momento dos melhores na minha existência, não por fatores externos, mas por fatores internos. O que separa a realização dos meus dois projetos da não-realização deles? Não sei dizer. Ou sei, a vontade de terceiros, eis aí o cerne da questão. Independe de mim. Não sei como agir com os outros de forma a levar tais projetos à consecução. Ou melhor, sei o que posso fazer, mas não é tempo ainda, quem determina esse tempo é a incrível revisora. Quando decidirmos que o livro chegou à melhor forma que pode ser, é a hora de botar o projeto adiante. Mandar para o meu tio, para o velho escritor e torcer pelo melhor. Trinta dias desde que mandei para o escritor. A vontade de mandar um e-mail nesse dia tão simbólico arde dentro de mim como uma azia da alma. Mas segurarei minha acidez para o momento certo. A vontade que tenho é de apagar tudo o que escrevi até aqui e começar de novo. Mas vejo isso como um retrato falado de mim no momento, então deixo o que já foi, pois aquilo era eu também. Vou pegar Coca.

15h22. O meu tio está online no Facebook, mas não tenho cara de comentar sobre o livro com ele. Ainda. Tudo a seu tempo. É o que mais tenho e só sei preenchê-lo com palavras. Isso às vezes se afigura como uma perda imensa de vida que poderia estar vivendo de outra forma, mas não vejo forma mais interessante que essa. Ou mais fácil. Ou cômoda. Por mais que ultimamente os textos tenham despertados sentimentos negativos em mim. Isso é porque eu trago sentimentos ruins de desilusão do porvir. Viver uma desilusão por antecipação é, no mínimo, uma postura idiota é como pensar no final do relacionamento quando este ainda está na paquera. Não tem sentido. Então o melhor a se fazer é deixar as coisas irem acontecendo e ir convivendo com as expectativas.

15h33. Quase ia mandando um e-mail para Raimundo Carrero com link para os posts de hoje. A ideia se apresentou bem sólida na minha cabeça, tive que fazer esforço para reprimi-la. Hoje estou explorando o Spotify, deixando que me sugira músicas. É interessante. A seleção é pertinente. Me agrada.

16h02. Mamãe chegou e ela e meu padrasto trouxeram um lanche do McDonald’s, que já está em clima de Copa e oferece sanduíches das seleções, mamãe me trouxe o da Alemanha que é a seleção do dia de hoje. O Quarterão deixei para depois, pois não tive fome suficiente para dois sanduíches, mais batata, mais um milk-shake. Em que consistia o sanduíche da Alemanha? Dois hambúrgueres com queijo, bacon, tomate e uma suave mostarda escura, num pão com um gergelim diferente. Nossa, de barriga cheia não tenho disposição nem para escrever.

16h08. Mas vamos às palavras. Que palavras que essas não me vêm? Hahaha. Estou numa leseira triste aqui. Escutando um tal Slowdive que tem muito realmente de Cocteau Twins. Essa sensação de saciedade me desarma completamente. Não gosto da sensação de saciedade ainda mais quando não estava nem com fome. Mas não poderia deixar de comer, seria uma desfeita. E sanduíche velho do McDonald’s não é a melhor coisa do mundo. Como há coisas medíocres no mundo que conseguem holofotes para si. Por isso me questiono se meu livro não teria as mesmas propriedades para isso. Acredito que tenha. Acredito no livro hoje, como não acreditava no post anterior, graças ao Spotify. Que me mostra músicas medíocres, mas que conseguiram ser gravadas e lançadas. Por que não posso eu, tão medíocre quanto, ser publicado? Preciso de uma Coca para ajudar na digestão. Estou empanzinado aqui.

16h23. Às vezes me dá vontade de gritar. Botar para fora, mas me seguro. Dizem que isso pode ser libertador. Vejo todos passarem à minha frente e eu empacado no meio do caminho. Apodrecendo. Eu não fui feito para o mundo. Fruto malformado que apodrece no tronco. Toda possibilidade de ser nova árvore que não possuo. Quem colherá? Quem se servirá do que ofereço de mim? O que me passou pela cabeça é que, com a virtualização da música, o sonho de ser e ter uma banda diminuiu significativamente. Posso estar enganado. Como disse, sou um profeta de araque. A democratização da música tira um pouco do glamour de ser estrela. É tanta gente que é difícil se destacar quando todo mundo pode se publicar na internet. Sei lá, falo do que não entendo. Nada sei do mercado musical. Isso é apenas uma impressão que me dá. Acho engraçado quem dá os conselhos e não os segue. Eu mesmo faço isso em relação ao cigarro. É cômico, com que autoridade posso falar de algo que não pratico?

16h43. O tédio veio se apossar de mim. Detesto essa parte. Nada se perde na vida se extintos os momentos de tédio. Talvez falte ele como contraponto para os momentos em que não se está entediado, mas estes têm brilho próprio que não aumenta por ter como comparativo o tédio. O tédio é desnecessário ou, antes, é um chamado para a mudança, para se fazer algo de diferente, algo a mais. Mas não há nada mais que eu queira fazer, que encruzilhada. O negócio é seguir para ver onde isso vai dar. Não acredito que o dia já vai me deixar. Isso põe tudo mais tristonho ao meu redor e dentro. A não ser que miraculosamente o meu amigo da piscina me chamasse para descer. Não acho que isso ocorrerá. Nem sei se anseio mesmo por esse encontro. Nossa, a viagem me assusta. Me põe temores grandes no peito. Uma ansiedade ruim, um não quere ir muito forte. Me põe até a suar. Isso não é normal. Mas não posso me anestesiar mais do que já me anestesio com medicamentos. Eu deixaria de ser eu, o que nem é uma má ideia. Hahaha. Rio, mas o sentimento de impotência perante a vida me consome. Vou ligar o ar, a ansiedade da viagem me pôs a suar. Pegar café para ver se isso faz alguma diferença.

17h11. É uma droga não gostar de quem se é e mais ainda fazer uma coisa que gosta mas detestar o resultado. Melhor do que fazer o que não gosta e adorar o resultado, acho eu. Eu tenho desgostado muito de ser eu desde ontem. Mais do que o normal, eu digo. Tudo me parece infantil. Até os encontros com o meu amigo da piscina. Que maturidade é essa da qual me visto se não tenho maturidade alguma? Isso é muito contraditório. Aposto que se meu amigo da piscina me chamasse eu iria sem titubear. Vou tomar o resto do café. E acho que vou fumar um indevido cigarro.

17h24. Não me movi da cadeira, dei uma olhada inútil na internet, vendo coisas que não me interessavam. É o que mais faço na internet, ver coisas que não me interessam. É raro ver algo que me desperte interesse. E se, note bem que é um “e se”, os meus dois projetos-sonhos fossem publicados? Como isso me afetaria? Eu não sei nem medir. Hoje eu sei menos das coisas que o meu normal. Mas ambos trazem resultados imprevisíveis. Realmente não sei.

17h41. Existir pode ser uma experiência deveras enfadonha às vezes, mais vezes do que gostaria que fosse. Tem gente que tem gente ao redor, gente conhecida, gente querida. Para esses acho que é mais difícil se enfadar da vida. Eu tenho minha mãe e meu padrasto e busco deixar um para o outro e para suas séries, seus afazeres, seus celulares. Estou sem saco de estar aqui e tampouco quero sair daqui. Se fosse, era para cama dormir. Mas não quero dormir. Não quero escrever, mas quero menos dormir do que escrever. Estou de saco cheio da vida como ela está se dando hoje. Eu não sei o que dizer, não tenho muita vontade de dizer e só o faço por força do hábito. Eu precisava de algo que me alterasse o humor. Para melhor, digo. Em não tendo...

18h04. Minha mãe me disse que o gás havia voltado – estão racionando aqui no prédio por conta da greve dos caminhoneiros – e que se eu quisesse tomar banho quente me apressasse. Eu quis. Foi razoável como tudo na minha vida hoje. Isso pode ser a calmaria antes da tempestade. A tempestade seria o quê? A consecução do meu projeto. Mas, sei lá, não tenho disposição nem de pensar nisso. Vi uns anúncios dos novos games que vão ser lançados e não me deu a menor vontade de jogar videogame. Estou virando um velho chato, ensimesmado, recluso e sem palavras. Logo elas, que são as únicas com quem posso contar nesses meus longos dias de solidão. Talvez eu precise dar um tempo na escrita, sei lá. As músicas já se repetem na seleção do Spotify. Ou seja, passei muitas horas ouvindo realmente. O que queria que se materializasse aqui? Um exemplar da primeira de várias edições do meu livro. Hahaha. Hoje não é um dia para pensar na morte, pois nesse marasmo ela me parece mais convidativa e provocante. Tenho que viver pelo menos para ver onde essa história de livro vai dar. Ou me levar. Não queria ter essa viagem no meio do ano. Só falta a revisão ficar pronta quando eu estiver lá. Tanto faz, eu posso mandar para o meu tio mesmo assim. Tomara que ele faça a parte dele. Eu sou uma figura insignificante para ele, isso sim. Ele acha que me pedindo os trabalhos está me ajudando a me sentir produtivo e útil. Doce ilusão. Amarga para mim. Acho que mais do que o exemplar do meu livro eu queria que se materializasse a aprovação de Raimundo Carrero. Não sei, fico entre essas duas. De amor nem vou falar. Desaprendi. Sei amar ainda. Só que só sei amar impossível, não sei mais amar de verdade. Eu sou uma negação como ser humano. Sou um ser humano negativo. Ou me sinto assim hoje e desde ontem. Quantas e quantas pessoas não têm os seus sonhos destruídos? Eu sou apenas mais um. E olhe que ainda há esperança. Nada está definido ainda. Pelo contrário, a rodada vai começar depois do final da revisão e edição.

18h47. Sem... saco... para... existir... tédio imenso... Coca-Cola.

18h52. Minha mãe perguntou o que eu tenho? Respondi, nada. E é precisamente o que eu tenho um excesso de nada. Esse post não vai ser divulgado. Mas vai ser postado.

19h01. Vi duas pessoas que escrevem complicado e isso me intimida, eu que escrevo simples e direto, sem cambalhotas ou piruetas para dizer o que quero. Essa vontade de ser diferente eu não tenho. Não tenho estilo. Se o tenho é direto e de pouquíssimos rodeios e rodopios. Mas parece que falar difícil agrada os críticos literários. Só posso crer. Eu sou realmente um nada na vida. E continuarei sendo um nada na vida, só não vou escrever empolado porque não quero, não sei e não consigo.

19h05. Não lembro de Machado de Assis ter escrita inacessível. Tinha uma forma de dizer belíssima, mas não era inacessível. Não que eu me lembre. Li pouco de Machado de Assis. Mas acho que li o livro certo, Dom Casmurro, a coisa mais bem escrita em que já pus os olhos. Quem me dera ter um milésimo de seu brilhantismo. Mas é uma pena nasci sem ele, não me esmero na construção dos meus textos, vou apenas transcrevendo o que me ocorre. Sou um escrivão da minha mente. Nada mais que isso. Mas fico feliz que meus amigos de estilo mais rebuscado se destaquem, devem ter seu mérito. Eu pelo visto nenhum mérito tenho. Por mais que ache que a história que conte seja interessante, pode ser que seja contada de forma medíocre. Eu sei lá. Primeiro verei o que a incrível revisora diz. Mas acho que ela não será mensageira de boas notícias. Talvez por isso o receio em me falar sobre o livro. Tenho que desopilar desse livro, mas queria que saísse pelo menos no Jornal do Commercio caso fosse publicado. Enviaria para todos os locais possíveis e imagináveis. Eu disse que iria parar de falar sobre isso. Mas não consigo se minha existência orbita ao redor disso com uma mariposa a uma lâmpada. Todo a significância da minha vida amparada em algo que provavelmente nem vá se dar. Quase, quase fiz o movimento de repartir com as minhas amigas o segredo do livro. Eu hoje estou querendo ligar o foda-se mesmo. Calma, calma, só há necessidade de contar se for certa a publicação. Ou seria mais decente fazê-lo independentemente disso? Acho desnecessário. Não sei, estou me dúvida. Tudo a seu tempo. Vou usar essa frase a meu favor para essa questão. Se estou usando contra a minha vontade nas demais, por que essa não possa ser a exceção? Ser uma que eu realmente ache que deva dar um tempo? Eu estou... eu nem sei definir. É um estado que não me agrada. Pode ser o início de uma depressão. Espero que não. Deve ser outra coisa. Sei que amanhã vai ter café a dar de rodo e dificilmente me sentirei assim. Não acredito que já estou na quinta página. De que eu não sei. Escrever sobre nada é uma tarefa difícil, não são muitos que conseguem. Ou fazer de tão pouco tanta coisa, tanto texto. Realmente me impressiona essa capacidade. É um tremendo desperdício de tempo, de palavras, de neurônios, é lixo. O que estou produzindo hoje é lixo, acho que tudo o que produzo é.

Saturday, May 5, 2018

ELEVADOR ROSA


13h32. Hoje estou mais aliviado. Ainda bem. Já dou a opinião de Seu Raimundo quase como perdida. O plano de saúde só se ligar de novo. Ou se decidiram por me enviar um boleto pelo correio, sabe-se lá. O mundo não mudou de ontem para hoje. Recebi os e-mails da incrível revisora e da minha amiga do ateliê de pintura de bonecos, ambas as notícias foram boas e me deixaram contente. Preciso só convencer minha mãe a fazer logo o pagamento à minha amiga revisora para ficar ainda mais completamente tranquilo. Acho que me excedi mandando o e-mail para Seu Raimundo, mas o que está feito, está feito. Já conto com a revisão da incrível revisora que era, antes da possibilidade de Seu Raimundo, com tudo o que contava e provavelmente é com tudo que continuarei contando. O que está de bom tamanho para mim. Mas uma esperança ainda resiste em relação ao velho escritor. Minha Asuka na moto ficará fantástica como tudo que a Yeti Art produz. Hoje é sexta-feira e há possibilidade de saída. Não que eu esteja animado para isso, mas posso me forçar a ir. A vontade que tenho é não deixar o meu quarto-ilha. E isso é triste, mas já é um treino caso a obra seja produzida. Vamos ver qual vai ser reação da minha amiga revisora quando de posse de toda a verdade. Quando chegar até o fim.

14h09. Liguei para o plano de saúde e descobri que eles não produzem nenhum documento que sirva de comprovante de residência. Me foi sugerido que fosse a um banco pleitear isso. Irei na semana que vem, visto que hoje é sexta e estou com preguiça de ir. Então vou na segunda. Pode ser que ainda consiga mandar para o concurso, uma janelinha de esperança se abriu. Não que vá ganhar o concurso, o importante é participar. Até porque a minha amiga revisora já disse que há sugestões de edição em relação ao texto, e está apenas no começo, suponho. Nossa, como queria receber resposta de Seu Raimundo. Será que porque publiquei no blog que consegui falar com ele, outras pessoas tentaram mandar e-mail com obras para ele? Tomara que não.

14h28. Talvez tenha saída hoje. Para o Central, aniversário de um membro da turma. Me parece interessante. Por mais que não queira sair de casa, faria esse movimento para ir. Dá várias gatinhas lá. Quem sabe a mágica não aconteça? Hahaha. A quem estou querendo enganar? Mas, se for, levarei uma caneta para, quem sabe, mandar algum torpedo. Se é pela escrita que me exprimo melhor, ela pode ser a minha arma. Hahaha. Coisa mais antiquada, torpedo. Talvez aí resida o seu charme ou o meu charme. Hahaha. Realmente é muita viagem da minha cabeça. Às vezes penso que estou de fato em mania. Mas não vejo sintomas disso, como falar demais ou psicomotricidade exacerbada. Fiquei ansioso ontem, bateu uma crise disso, mas hoje está tranquilo. Mandei um e-mail que não devia? Mandei. Não posso pressionar um grande escritor a me dar respostas, mas fiz essa pressão para diminuir a minha ansiedade. Agora estou mais relaxado, mesmo que ele não me responda mais. Aliás, acho que é exatamente o que vai fazer. Queria só um e-mail de resposta. Mesmo que dissesse que não vai mais ler. Ou que está uma porcaria. Qualquer coisa. Em verdade, guardo uma esperança de que ele goste do material. Seria a glória para mim. Vou fumar um cigarro.

14h53. Me peguei pensando no Central com certa animação. Me lembrei também do elevador rosa. Exato, elevador rosa. Literalmente. O nosso elevador social, para evitar degradação, visto que é novo, foi recém-instalado, enquanto fazem a substituição do de serviço, foi revestido de tapumes cor de rosa o que o torna um ambiente bastante peculiar. Obviamente tirei uma foto para mostrar para vocês.


É verde, é rosa, ai, abre alas para a Mangueira passar. Hahaha.



14h56. Estou abismado que o meu post, mesmo sem ser divulgado já conte com 12 visualizações. Não sei qual foi a mágica que se deu, pois o título não é chamativo e o texto é praticamente todo voltado à ansiedade de não receber respostas dos e-mails que mandei. Três dos quatro foram resolvidos ou estão em processo de. Só falta mesmo Seu Raimundo. Mas se a minha amiga revisora achar que o texto vale a pena, para mim está de bom tamanho. Embora quisesse muito, muito, uma resposta com orientações dele. Seria o melhor presente que poderia ganhar. Repassaria as informações para a minha amiga revisora para ela fazer o que lhe convier fazer. Da última vez ele me respondeu por volta das 16h00. Será que responderá de novo, o e-mail desesperado que o enviei ontem? Ah, sabe de uma coisa, está entregue, que o destino tome o rumo que achar válido. O que tenho já está de bom tamanho. Espero que a minha amiga revisora não fique com preconceito de mim após ler o livro todo. Tomara mais ainda que ela transforme os meus textos em algo mais próximo de literatura. Se eu publicar, mandarei para todos os veículos que puder. Digo, se for uma produção independente. Se for por uma editora, acho que ela cuida disso. Meu sonho é passar na Livraria Cultura e ver lá o meu livro exposto. Aí eu diria, cheguei lá. Ou antes ainda se recebesse uma crítica favorável de Seu Raimundo. Eita, Seu Raimundo, se o senhor soubesse o quanto eu penso e preciso do seu feedback. Como sou ingrato. Já tive três dos e-mails solucionados e não me dou por satisfeito. Arre, é muita pretensão. Mas Seu Raimundo se mostrou tão prestativo. Não sei se o meu e-mail repleto de ansiedade melou tudo. Não tenho como “desenviá-lo”. Nem vou mandar outro dizendo que ele releve. Seria pior ainda. Deixa a coisa como está e se porventura ele vier a responder, respondeu. Se não, não. Não há mais nada que eu possa fazer. E esse não ter mais nada a fazer me dá um alívio de qualquer ansiedade que me acometia. Esgotadas as possibilidades, relaxo. Mas enquanto isso não se dá, nossa, a ansiedade me acomete. O texto de ontem reflete bem isso.

15h29. Meu primo-irmão confirmou que ia para o Central e que eu poderia aparecer na casa dele por volta das 22h00. É o que farei se minha mãe assim consentir, o que acredito que acontecerá. Não pretendo fazer mais nada no final de semana depois disso. Uma saída semanal me basta. Estou com vontade de dormir, mas não vou. Vou esquentar o café frio de ontem no micro-ondas para ver se me reanimo. O Central dá altas gatas. Pelo menos da última vez que fui, achei isso. Faz tempo, viu? Fui à cozinha e mecanicamente pus gelo no copo, só no meio do ato lembrei do café, então peguei outro copo de Coca mesmo, que está acabando para a minha infelicidade.

15h40. Apareceu o Homem de Ferro que tanto queria, pelo precinho que acho justo, no eBay. Mas não vou arrematá-lo porque é um boneco a mais para trazer dos EUA. Estou fora. Prefiro que pintem os meus kits, ou que guarde para a Harley Quinn ou qualquer outro que me encante mais. Queria falar de bonecos, mas acho demasiado chato para esse blog. É uma oportunidade única de pegar o Homem de Ferro, mas resistirei. Já tenho bonecos demais da conta. Se fosse eleger um só para ficar? Claro que seria o Hulk, não tem nem o que pensar. Ele é meu companheirão. Minha aquisição mais cara e a menina dos olhos da minha coleção. Mas disse que não falaria de bonecos. Aí, quando paro de pensar neles – e de olhar para o Hulk – me lembro de Seu Raimundo. Era melhor não ter achado o seu e-mail e recebido resposta de que leria com prazer a minha obra. Havia deixado a aba do leilão do Homem de Ferro aberta, mas para que? Então a fechei para eliminar qualquer possibilidade de cair em tentação. É passado, foi, finito. Será que a líder vai para o Central hoje? Tudo indica que sim. Deve ter deixado o pequeno com os avós. Desde que se tornou mãe, nunca mais a vi. Como queria uma resposta do escritor. Posso tentar mandar para outros, mas me sentiria traindo Seu Raimundo. Será que ele tem um assessor para gerenciar sua persona cibernética? Olhe onde a especulação chega. Que ridículo. Não vou morrer se não receber resposta, mas poderia ser uma que mudasse a minha vida. Que, mesmo sem publicar, já fizesse o meu trabalho parecer válido. Ou, muito pelo contrário, que me desestimulasse completamente. Eu queria muito o aval dele. Seria como um selo de qualidade para o meu texto, um selo de excelência. Mas duvido que da altura da sua escrita veja valor numa coisa construída de forma coloquial, prosaica e vazia. Queria pelo menos que prendesse a atenção do leitor.

16h11. Recebi uma mensagem agora e não sei se acredite. Não, não foi de Seu Raimundo. De qualquer forma estou de mãos atadas e nada posso fazer para ajudar o meu amigo em suposta necessidade. A história está muito estranha. A verdade é que acho que ele está sem dinheiro e quer arrumar comigo com uma história mirabolante. Ou pode ser verdade. Só uma coisa foi uma inverdade, a parte em que tenta jogar a culpa para mim. Bom, não tenho como ajudá-lo de qualquer forma.

16h22. Coloquei o resto do café frio requentado do micro-ondas. Não está a melhor coisa do mundo, mas é café. Ainda atordoado com a mensagem, mas não há nada que possa fazer. Ele ficará com raiva de mim, é a vida. Espero que não tenha recaído na pedra. Bom, não vou matutar muito sobre isso. Fato é que não tenho meios de ajudá-lo.

16h36. Ele se acalmou mais, fui bem honesto e assertivo. A melhor forma de lidar com o mundo. Embora nem sempre consiga. Mudemos de assunto. Talvez encontre com o meu amigo da piscina amanhã. Espero que seja um encontro legal. Geralmente é. Mas me focando no hoje, há o Central, que já me dá um frio no estômago. Não posso ir para lá todo fechado como um caramujo que entra dentro da casca. Tenho que ser mais aberto, muito mais aberto. E pedir que mamãe corte os pelos da minha barba que já entram na minha boca. O que é incômodo e um impeditivo para um hipotético beijo.

17h25. Mamãe tentou fazer o pagamento da minha amiga revisora e não conseguiu. Que saco. Ainda terei que ir com ela ao supermercado. Mas sairei hoje para o Central, talvez seja bom. E, no supermercado posso comprar guloseimas que me agradem. Minha amiga não responde. Bem, quando ela se comunicar pode ser que dê para fazer a transferência hoje. Não sei, pois os bancos já fecharam, mas pelo menos fazer hoje para que se dê na segunda. É algo a mais para pensar, supermercado, pagamento da incrível revisora, Central. Mas Seu Raimundo paira no fundo da minha mente. Ô pensamentozinho persistente. Mas não me dou por satisfeito sem o aval ou a condenação dele. Não devia nunca ter tido essa ideia de procurar pelo contato dele na internet. Que saco. A ignorância às vezes é uma bênção de fato. Acho que eu sou o cliente mais chato da minha amiga revisora, não paro de encher o saco dela todo santo dia, ela já deve estar saturada de mim. Mas também quando pagar a primeira parcela, eu relaxo.

18h56. Voltamos do supermercado, foi rápido, ainda bem. Agora o meu foco é na saída para o Central. Confesso que não estou com vontade nenhuma de ir e isso é muito chato. Ainda bem que ainda tenho três horas para me preparar. É sempre assim que as saídas se dão comigo, sempre uma apreensão prévia em relação ao programa. Minha mãe me desconcentra. Falou dos cigarros e o assunto ficou ecoando na minha cabeça e criando pernas, cheguei a pensar se terei cigarros para ceder ao meu amigo da piscina amanhã. Espero que sim. Se ele estiver disposto a descer amanhã. Pode estar amuado comigo porque disse que tinha um aniversário para ir e não poderia ir para a piscina. Mamãe guarda as compras e dentro em breve vai à piscina para uma reunião de condomínio, onde o candidato a novo síndico apresentará suas propostas. Será um encontro regado a vinho e salgadinhos. Bem diferente dos demais síndicos que já pleitearam a vaga. Espero que seja uma espécie de aprazível confraternização e que minha mãe tenha bons momentos lá. E que esse síndico ganhe, eu é que não teria coragem de ficar nessa berlinda na frente de moradores conhecidos do condomínio. O que devem falar e falam mal de síndico pelas costas não está no gibi. Deu me livre.

19h18. Estou tomado por um sentimento ruim. Não sei de onde veio nem qual é a causa. Um desconforto na alma como se houvesse algo terrivelmente errado com a minha vida. Não sei aferir o que é, a primeira coisa que pipoca na minha cabeça é o livro. Mas ele pipocaria em qualquer situação, pois é o assunto principal da minha vida hoje. Talvez seja o fato de levar a vida a escrever, talvez seja o receio de encontrar pessoas. Sinceramente não sei.

19h26. Será que a história do meu livro é uma história que merece ser contada? Eu sinceramente não sou a pessoa mais indicada para avaliar isso. É uma história peculiar, eu creio. Mas não sei se os personagens têm profundidade psicológica, nem sei se isso é necessário. Poderia ter descrito tudo com ainda mais detalhes, coisas que me lembro e que tratei superficialmente, não dei conteúdo, mas o livro ficaria ainda mais enorme. Está entregue, está nas mãos da incrível revisora. Se ela me pedir para elucidar determinado trecho, se lembrar e puder, faço. Minha mãe gosta de solenidades, eu odeio solenidades. Não iria nunca para uma reunião de condomínio. Para falar a verdade não tenho vontade de sair do meu quarto-ilha. Nem para ir ao Central. Estou de baixo-astral. Vamos ver se isso melhora em pouco mais de duas horas, mas acho que sim, quando me aprontar descer e pegar o Uber, quando a coisa se tornar mais concreta eu me animo mais. A incrível revisora ainda não deu sinal de vida. Mas isso já era esperado. Eu tenho que botar na cabeça que existe final de semana, eu não penso muito sobre o acontecimento, pois meus dias são muito semelhantes independentemente de que dia da semana seja. Aos poucos vou perdendo a sensação de final de semana. A diferença do final de semana é a possibilidade de sair para o mundão. Coisa que não faço durante a semana porque simplesmente não sinto vontade. É, eu sou um sujeito estranho. Cada vez mais. E me sinto confortável com isso. Bem, há um desconforto, mas a acomodação é muito maior. Qual seria o desconforto? Que estou gastando a minha vida à toa escrevendo essas asneiras quando podia estar experimentando o mundo. Mas experimentar o mundo geralmente envolve algum dinheiro, coisa da qual não disponho em geral. Obviamente minha mãe deixou dinheiro para a saída de hoje, mas durante a semana é extremamente raro eu estar de posse do vil metal. Mas caso o livro saia, esta vida caseira vai ser a minha vida mesmo, por razão da exclusão social com a perda da maior parte dos meus amigos. Um dos dias que mais gosto é a segunda, pois é dia de terapia. É um momento bom. Só não acho que ela vá achar válido eu revelar um detalhe chave do livro. Por isso calarei sobre isso. Ela me fará questionar as perdas sociais que terei. E já tenho isso bem pesado. E o peso é enorme. Só não é maior porque passo a maior parte da minha vida enfurnado escrevendo. Quase não tenho contato com ninguém, mas ficarei socialmente estigmatizado. Tenho convicção disso. Só queria que a minha obra fosse única em algum aspecto. Queria deixar a minha marca na literatura, o que não vai ser o caso. Talvez como escritor maldito. Hahaha. Ao menos isso. Hahaha. Mas vou além e me terão por uma pessoa maldita. Pois se há uma coisa que farão é me maldizer. Aí talvez seja até uma alternativa ir morar nos EUA com o meu irmão mesmo. Como se minha obra fosse ter essa abrangência, atingir tantas pessoas. Provavelmente acabarei publicando 50 exemplares e me queimarei apenas com os meus amigos. O que é o mais terrível. Me queimar com desconhecidos pouco se me dá. Mas com pessoas que conheço é sem dúvida a parte mais difícil. Ou quem sabe nem publique. Seu Raimundo poderia jogar uma luz sobre a pertinência do livro. Ou ele mesmo ficou tão indignado com o conteúdo – e consequentemente comigo – que não quer nem se dar ao trabalho de me responder. Ou talvez responda para me insultar. Sei lá. Posso estar fazendo tempestade em copo d’água. Mas acho que o buraco é um pouco mais embaixo.

20h27. Se eu fosse uma mariposa não teria dilemas existenciais. E ainda poderia voar. Mas eu sou um cara que quer publicar um livro que não deveria publicar. E vivo esse dilema entre o querer e o não dever. Coloquei as engrenagens para girar. Só quero que mamãe veja o livro uma vez publicado, quando não haverá volta. Eu não queria que o meu padrasto lesse. Eu não queria que nenhum conhecido lesse. Talvez se lançar com um pseudônimo. Sei lá. Não sei se é possível lançar na surdina. Tenho que meditar muito sobre o assunto e conversar com a minha amiga revisora acerca da viabilidade da obra. Poucos foram os que se expuseram mais que eu. Pelo menos tenho esse diferencial. Talvez esteja criando tempestade em copo d’água. Tomara. A hora do programa se aproxima. De 21h30 começo a me aprontar para ir. São 20h35. Uma hora ainda. Quem me dera ter uma resposta de Seu Raimundo nesse ínterim. Acho que ele não vai responder nunca. Preciso introjetar esta possibilidade. É a que se afigura como a mais real. Senão teria me respondido o e-mail de ontem. Eu, em seu lugar responderia. Mas eu sou eu e ele é ele. Não tem nada a ver o que faria com o que ele fará ou deixará de fazer. Maldita hora em que fui achar o e-mail do homem. Por que ele simplesmente não me deu nenhuma resposta? Por que me deu esperança? Que ozzy. Será que chegou a ler? Algum trecho? Sei lá e provavelmente nunca saberei. Saberei o que minha amiga revisora vai achar. E isso pode definir se eu publico ou não o conteúdo. Ela não dá notícia de vida. Espero que não desista de revisar quando a parte mais chocante se apresentar.

20h51. Nossa, passei um bom tempo matutando aqui e só sentimentos ruins rolando, só as piores expectativas. Talvez sair e ver o mundo recicle um pouco o meu repertório. A hora se aproxima para a saída. Acho estranho a minha amiga revisora não ter dado sinal de vida. Só maus pressentimentos. Vixe, texto mais chato. Só remoendo tudo o que pode dar errado com o meu projeto. Meu grande sonho número um. Talvez vire o meu maior pesadelo. Estarei eu preparado para isso? Acho que este texto vai para o Vate. Não quero minha mãe lendo isso.

20h59. Nem sei se quero alguém lendo isso. Mas talvez isso seja o grande teaser do meu livro. O trailer. Hahaha. Gerando curiosidade sobre o que de tão aberrante há no livro. Será? Vou publicar esse texto num dos meus blogs capilares, é melhor. Mais prudente. Já me pus até em bolar slogans para o livro. Hahaha. Para banners de internet. Um seria, “imoral, pervertido e absolutamente sincero. Leia.”. Ou outro seria. “Só louco para criar algo tão polêmico”. Outro seria. “Ele gostou de estar no manicômio. E você?”. Só pensei nesses até agora. Em verdade havia mais, mas se perderam, caíram da memória. 22 minutos para me arrumar.

21h11. Vou pegar o último copo de Coca antes do banho. Estou matutando aqui e tudo o que me vem são sentimentos negativos. “Ele tomou eletrochoques. Mas choque mesmo tem quem lê.” O que me lembra que preciso tratar dos eletrochoques com mais detalhe. Menciono rapidamente. Eu acho. Nem lembro. Talvez só tenha tratado deles no blog. Realmente me falha a memória.

21h21. Definitivamente não vou publicar isso no Profeta. Se minha mãe ler, vai querer ter acesso ao conteúdo do livro antes do lançamento. E isso não vai acontecer. Acho que minha amiga revisora vai desistir do trabalho. “Um livro maldito”. Poxa, achei esse o melhor slogan. Sintetiza tudo e desperta curiosidade. Queria que a revisora não desistisse e tornasse o livro mais literário, sei lá. 21h29. Preciso tomar banho. Sem saco nenhum para ir. Mas vou. Quando acabar escrevo sobre a noite, se tiver paciência.

21h43. Acho que não vou mais. Não estou com saco nenhum. E começou a chover, o local é aberto, não acho uma boa combinação. Melhor ficar em casa. “Quando a gente não quer, qualquer desculpa serve”

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15h24. Fui para o encontro e não poderia ter sido mais agradável. Gosto de sentar e conversar. E foi o que fizemos. Nada de balada, de barulho, de luzes piscando. Todos sentados conversando sobre os mais diversos temas da vida. Um que me chamou atenção foi quando tratamos de relacionamentos amorosos, o que deu pano para a manga para o meu post mais recente do meu blog principal, esse é apenas um blog que chamo de capilar, ou seja, um blog que registrei porque achei o nome interessante e que tem um link redirecionando para o Jornal do Profeta. Se você quer ver em que resultou essa conversa sobre relacionamentos acesse http://jornaldoprofeta.blogspot.com.br/2018/05/carta-garota-da-noite.html 

LIXO

14h13. Estou com medo do que vou escrever hoje. Será que cairei no mesmo baixo-astral do texto “ Reiniciar ”? Não queria. Embora ach...